Alexander Rodchenko
amarelo e vermelho, 1918
ovelha
des-
garrada
de longe
o olhar
mira
sem espanto
e escuta
frágil
a sua primeira
textura
e a cada vez que respira
vê que agora
não vem
como
e porque
está
morta
Ângelo Luís
*
garça
o peixe
ao bico
deses-
perado
move
branca
altiva
salta
fora
a pernalta
não se
comove
asa sobe
e vai
Francisco Settineri.
*
elefante
sempre
deixa
forte
a sua marca
deve ao seu
passado
a sua comarca
velho
assustador, o
oligarca
Francisco Settineri.
*
Minhoca
desliza
sem aviso
ate desaparecer
sem ruído
por uma fração
de segundo
Ângelo Luís
*
bugio
decrépito
desata
a vaia
ao mato
o vil
arauto
ao vento
ataca
a boca
aberta
ronca
o estrépito
Francisco Settineri.
*
Pernilongo
No quarto escuro
o voo se estende
zoombido
rastros sangrentos nos corpos
Em migalhas o sono se vai
pescoços dependurados
há muito sumiu
na palma da mão
Ângelo Luís
*
aranha
perambula
sempre feia
de um só golpe
desalmada
filigrana
costurada
ponta a ponta
amarrada
ela espera
o seu prato
desde sempre
armada
Francisco Settineri.
*
caracol
destece a vida
em seu abrigo
até sumir-se
de súbito
esparrama
incomunicável
o último
sentido
Ângelo Luís
*
jararaca
bote pronto
leve ao ar
nenhum rato
atordoado
escapa
.
o vestido
é nua escama
seu olhar
inflacionado
ataca
Francisco Settineri.
*
abelha
sem perder o ferrão
vá o que valha
tira e atira
até acertar o alvo
quando se avulta
e corre adiante
Ângelo Luís
*
zebra
pata
explode
o bando todo
alado
ao lado
vai
branca
e preta
a carne
exposta
o leão
quer
salto
a dor
um vendaval
o animal
mortal
celebra
Francisco Settineri.
*
barata
explode em casca vil
ataca
a mil por hora
em asa
torta
corre no parquê
mil pés
querendo
vê-la
morta
Francisco Settineri.
*
libélula
leve
no ar
libera
e nivela
o pouso
mantendo
seu voo
sob
a chuva
Ângelo Luís
*
cupim
bola de barro
espera e espreita
em furos feita
e escarro
no campo ao vento
o monumento
num acidente
atesta
o lenho era
duro esmero
hoje em grãos
protesta
Francisco Settineri.
*
escorpião
escondido
nos escombros
ali jaz
em uma das paredes
pronto para o ataque
Ângelo Luís
*
coruja
olhar duro
vindo abaixo
muito séria
a dita cuja
voo queda
muita farra
uma fuga
já desfeita
camundongo
na surpresa
filosofa
o subterfúgio
Francisco Settineri.
*
rinoceronte
do fundo das eras
a casca
grossa espera
a sua vez
aponta o seu
nariz
pra cima
o grande monte
Francisco Settineri.
*
mosca
espia
o pão de cada dia
sem acertar o alvo
a esmo
a mesma moléstia
sem alarde
solta
à toa
está a toda
Ângelo Luís
*
camaleão
olho imóvel
jeito velho
muita cor
mas quieto
camuflado
língua bomba
o que quer
incerto
Francisco Settineri.
*
Ângelo Luís e Francisco Settineri