Dia-Noite Escher
11 poemas de Ângelo Luís
escritos entre
2018 e 2020
*
náusea
clara a tua imagem
sem discordar
dela mesma
de uma só vez
imagem expressa
que não cessa
ainda mais
quando recomeça
*
De todas as formas
nada existe
De todas os nomes
que eu seja
De todas as fomes
nada não
De todos os tempos
ou então
De quase todos os momentos
atrás dos olhos
De quase tudo
que eu seja
De nada
eu revejo
De novo
eu mesmo
*
porque só existe o poema
a palavra o espaço
ou nada
ou não
porque só existe a voz
o dilema
do que não é visto
ou não
*
Francisco Settineri, 66
se teus sessenta e seis
logo se vingam
do tempo,
sem pressa
e só avisam:
achas que é tão simples?
há gente que é poeta
que encontro ou não
e me sorri em linguagem
mas, por outro lado
acontece deste modo
por uma fração de segundos…
*
faz muito sentido
não ter sentido
decida:
ser ou não ser
eis o senão
não diga nada
ouça o silêncio
*
chuva
sonhos subitamente
esparramados
atravesso submerso
o que me contempla
em chamas
*
Estanque
(variações sobre um mesmo dilema)
A Bento Ferraz
Cada parte
despedaçada
do meu corpo
te entende
Olhos abertos
se decompondo
na minha frente
quase sem fôlego
*
o meu preço
é não ter pressa
ou mesmo o pássaro
expira solitário
silenciosamente
sobre o avesso
enquanto falo
até o gargalo
sem pressa
atravesso espelhos
atravesso espelhos
sem pressa
até o gargalo
enquanto falo
sobre o avesso
silenciosamente
expira solitário
ou mesmo o pássaro
o meu preço
é não ter pressa
*
de vez em quando
até que se ouvia bem
assombrada
pelo artifício do tempo
pelo sabor difícil
dos ninguéns
ela foi ao cinema
*
index
sem nem
rever
a cor da
resposta
revém
ecoavoatévocê
*
de um lado
aspas
de outro
calo
*
Ângelo Luís